Solenidade da Assunção de Maria Santíssima

“A Virgem Imaculada, preservada
imune de toda a mancha da culpa original, terminado o curso da vida terrena,
foi elevada ao céu em corpo e alma e exaltada por Deus como Rainha, para assim
se conformar mais plenamente com seu
Filho, Senhor dos senhores e vencedor do
pecado e da morte” (LG, 59).

A Assunção da Santíssima Virgem constitui uma participação singular na Ressurreição de Seu Filho e uma antecipação da nossa própria ressurreição: com a sua Assunção aos céus, Maria “não abandonou a sua missão salvadora, mas, com a sua multiforme intercessão, continua a alcançar-nos os dons da salvação eterna” (Catecismo da Igreja Católica, n.º 969). Ela cuida, com amor materno, de todos nós que, entre perigos e angústias, caminhamos ainda na terra, até chegarmos à Pátria bem-aventurada. “A Mãe de Jesus, assim como, glorificada já em corpo e alma, é imagem e início da Igreja que se há de consumar no século futuro, assim também na terra brilha como sinal de esperança segura e de consolação para o Povo de Deus ainda peregrinante, até que chegue o dia do Senhor” (LG, 68). Mãe dos redimidos, ela é proclamada por todas as gerações que se acolhem à sua proteção, ela é o Refúgio dos pecadores, a Consoladora dos aflitos, o conforto do Povo de Deus na luta cotidiana contra o “príncipe das trevas” (Jo 12,31). “Apareceu no Céu um grande sinal” (Ap 12,1).

O corpo da Santíssima Virgem, transfigurado pela glória do Céu, é o grande sinal da Redenção do mundo; ao perder o sentido do pecado e ao esquecer a maléfica influência que ele tem nas realidades terrestres, perde-se em grande parte o sentido da Redenção e da sua ação salvífica, não só da alma, mas, também do corpo e das realidades sociais e do mundo. Maria, elevada ao Céu em corpo e alma, é o grande sinal de esperança: essa salvação, sobre a qual a humanidade se interroga, está já realizada em Maria por Deus. Pelo simples fato de Maria estar já no Céu, com a sua alma e com o seu corpo, ficam reduzidas a cinzas todas as formas de pessimismo absoluto.

“O Todo-poderoso fez em mim grandes coisas” (Lc 1,49).

Tudo é graça na vida de Maria: desde o primeiro instante da sua concepção até à glória última da sua Assunção. Ela é feliz porque acreditou, abrindo-se desde o primeiro instante ao dom de Deus. A Assunção de Maria, ao tempo em que reaviva em nós a esperança, torna-nos também imunes contra toda a forma de presunção e contra a tentação de realizar por nossas próprias forças uma espécie de paraíso artificial. Quem não vê, ao contemplá-la, que o verdadeiro paraíso, aquele em que Ela entrou, não é obra do homem, mas dom de Deus? Esperamos para o homem e para a própria terra uma transformação última, uma assunção à glória de Cristo ressuscitado; porém, não esperamos essa transformação das simples possibilidades humanas: esperamo-la da graça divina, da bondade infinita de Deus e será como que a coroação de todas as suas dádivas. O poder de Deus exaltou Maria, glorificou o seu Corpo Imaculado – Ela é a mais perfeita
de todas as criaturas, porque quis ser a menor.

Neste mundo que quer bastar-se a si mesmo, Maria, no mistério da sua Assunção aos céus, intercede por nós e orienta os nossos corações para que, “inflamados no fogo da caridade, constantemente se dirijam para o Senhor” (Liturgia do dia), doador de todos os bens, e para alcançarmos com Ela a glória da Ressurreição.

Dom Washington Cruz, CP
Arcebispo emérito da Arquidiocese de Goiânia