A catequese de hoje deu início à segunda parte da Carta de São Paulo aos Gálatas na qual o Apóstolo dos Gentios interpela diretamente os Gálatas, colocando-os “diante das escolhas que fizeram e da sua condição atual, que poderia anular a experiência de graça que viveram”.
Os termos com os quais o Apóstolo se dirige aos Gálatas certamente não são gentis. Nas outras Cartas é fácil encontrar a expressão “irmãos” ou “caríssimos”, aqui não. Diz genericamente “Gálatas” e duas vezes lhes chama “insensatos”. Não o faz porque não são inteligentes, mas porque, quase sem perceber, correm o risco de perder a fé em Cristo que aceitaram com tanto entusiasmo. São insensatos por não perceberem que o perigo é o de perder o precioso tesouro, a beleza da novidade de Cristo. A maravilha e a tristeza do Apóstolo são evidentes. Não sem amargura, ele provoca esses cristãos a lembrarem-se do primeiro anúncio feito por ele, através do qual lhes ofereceu a possibilidade de adquirirem uma liberdade até então inesperada.
Ação do Espírito Santo nas comunidades
Segundo o Papa, o Apóstolo “faz perguntas aos Gálatas a fim de despertar as suas consciências. Trata-se de questões retóricas, pois os Gálatas sabem muito bem que a sua chegada à fé em Cristo é fruto da graça recebida através da pregação do Evangelho. A palavra que ouviram de Paulo centrou-se no amor de Deus, plenamente manifestado na morte e ressurreição de Jesus. Os Gálatas devem olhar para este evento, sem se deixarem distrair por outros anúncios. A intenção de Paulo é colocar os cristãos em condições para que percebam o que está em jogo e não se deixem encantar pela voz das sereias que os querem conduzir a uma religiosidade baseada unicamente na observância escrupulosa dos preceitos”.
Os Gálatas experimentaram também a ação do Espírito Santo nas comunidades. “Ao serem colocados à prova, tiveram de responder que quanto tinham vivido era fruto da novidade do Espírito. No início da sua chegada à fé, portanto, estava a iniciativa de Deus e não a dos homens. O Espírito Santo tinha sido o protagonista da sua experiência; colocá-lo agora em segundo plano a fim de dar primazia às próprias obras seria uma insensatez. A santidade vem do Espírito Santo e essa é a gratuidade da redenção de Jesus: isso nos justifica”, disse ainda o Papa.
Deus continua concedendo os seus dons
São Paulo nos convida também a refletir sobre a forma como vivemos a fé. “Será que o amor de Cristo crucificado e ressuscitado permanece no centro da nossa vida quotidiana como fonte de salvação, ou será que nos contentamos com algumas formalidades religiosas para estar em paz com a nossa consciência? Estamos apegados ao tesouro precioso, à beleza da novidade de Cristo, ou preferimos algo que neste momento nos atrai, mas que depois nos deixa vazios por dentro?”
“O efêmero bate muitas vezes à porta dos nossos dias, mas é uma triste ilusão, que nos faz cair na superficialidade e nos impede de discernir aquilo pelo qual realmente vale a pena viver.”
O Papa nos convidou a manter a certeza de que, “mesmo quando somos tentados a nos afastar, Deus continua concedendo os seus dons”.
Uma ascese sábia e não artificial
Sempre na história e também hoje, acontecem coisas semelhantes ao que aconteceu aos Gálatas. Também hoje, ouvimos alguém que diz: “Não, a santidade está nesses preceitos, nessas coisas, vocês têm que fazer isso ou aquilo, e isso nos leva a uma religiosidade rígida, de rigidez que nos tira aquela liberdade no Espírito que a redenção de Cristo nos dá. Cuidado com a rigidez que lhe é proposta. Por trás de toda rigidez existe algo ruim, não há o Espírito de Deus. Esta carta nos ajudará a não dar ouvidos a essas propostas um pouco fundamentalistas que nos fazem regressar em nossa vida espiritual, e nos ajudará a ir adiante na vocação pascal de Jesus.
Francisco concluiu sua catequese, dizendo que, apesar de todas as dificuldades que possamos colocar à sua ação do Espírito, “não obstante os nossos pecados, Deus não nos abandona, mas permanece conosco com o seu amor misericordioso. Deus está sempre perto de nós com a sua bondade. Peçamos a sabedoria de percebermos sempre essa realidade e mandar embora os fundamentalistas que nos propõem um caminho de ascese artificial, distante da ressurreição de Cristo. A ascese é necessária, mas uma ascese sábia e não artificial”.
Fonte e foto: Vatican Media