Há quase dois mil anos Jesus estava com uma grande multidão diante de si. O Evangelho nos informa que, contando apenas dos homens, havia mais de cinco mil presentes. Na esperança daquela multidão um erro de cálculo, pois haviam seguido Jesus até ali por causa dos doentes que ele tinha curado.
Não é de se espantar que tanta gente se acercasse lá, fama dos milagres se espalharam, e, naquele tempo, como hoje, as pessoas vão longe para testemunhar o sobrenatural.
Entretanto, outra necessidade se interpôs entre Jesus e aquela gente: era noite e eles não tinham o que comer.
Jesus, que nos conhece por dentro, percebe as dificuldades e o empecilho para a vida que tanto nos impede de seguir em frente. E, naquele dia, Jesus tinha uma questão específica: Onde vamos comprar pão para que eles possam comer? (Jo 6,5)
As necessidades e as urgências mudam no calendário de ação de Jesus. Nada é grande ou pequeno demais para que não seja considerado com seriedade. A fome de pão mata tanto quanto as doenças congêneres, a miséria da comida é a mãe de todas as misérias porque afeta profundamente o existencial de quem não pode prover a si mesmo e aos seus entes queridos.
Jesus pergunta aos discípulos como resolver tal dificuldade. Como todo coração humano o primeiro repente é buscar na força do dinheiro: ‘Nem duzentas moedas de prata bastariam para dar um pedaço de pão a cada um’, lembra Filipe (Jo 6,7). A solução continua nos versículos seguintes, nos moldes próprios do agir do Mestre e Senhor a quem tanto conhecemos e amamos. Desejo, pois, concentrar-me em uma leitura alongada deste Evangelho para puxar os fatos ao tempo presente.
Jesus não foi e não é solucionador de problemas ideais ou fictícios. Não se agarra a tradições superadas, e corrige os fariseus que a elas se apegavam. Ele chama ao tempo atual. Perdoa os pecados quando pecados precisam ser perdoados; multiplica o pão quando o pão deve ser multiplicado e vence a morte quando ela precisa ser vencida. Portanto, o trabalho da Igreja, continuadora da missão de seu fundador e mestre é com o tempo presente, e, no tempo presente, perdemos, até agora, 550 mil irmãos, e outros tantos estão relegados à miséria e a fome por falta de planejamento e de capacidade de solucionar problemas dos governantes.
No tempo presente temos que apontar saídas para o longo retardo que sempre testemunhamos no País frente ao seu futuro, sempre envolvido em cruzadas de causas perdidas, sem a mentalidade de construir um legado que possa sobreviver na memória do tempo, assim como fez Jesus.
Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)