O dia de Pentecostes completa o tempo pascal e inaugura um tempo novo: o tempo da Igreja, do anúncio do Evangelho a todas as criaturas, o tempo da missão e do testemunho na força do Espírito Santo.
A vinda do Consolador abre portas, habilita para o anúncio, faz superar o medo, torna o discípulo criativo e capaz de encontrar saídas adequadas e ousadas no complexo mundo de todos os tempos.
Sobre o tema de Pentecostes e do Espírito Santo podemos encontrar, sem dificuldades, reflexões e apresentações amplas e profundas: só se servir do google para se informar.
Portanto, desejo simplesmente sublinhar alguns aspectos que ajudem na reflexão.
1. A apresentação que os textos bíblicos fazem do Espírito Santo são bonitas e encorajadoras: é o advogado, o defensor, o consolador. Como não se sentir em paz e bem sabendo que se “Deus é por nós, quem poderá ser contra nós?” O Espírito trabalha em nosso favor, defende nossas causas, doa consolo e esperança em todas as situações críticas e difíceis da vida. Pensando ao Espírito como advogado e também a todas as estratégias que os advogados encontram para ganhar os processos, ainda quando não parece ter nenhuma brecha possível, nos sentimos bem e animamos a confiança e a esperança. Dentro de nós e em nosso meio há alguém que defende, entende, acompanha, ajuda a não pisar em falso e esse alguém é o Espírito do Pai e do Filho, sempre interessados para que tenhamos vida e vida abundante, sempre preocupados com a nossa paz interior, embora carregados de contradições e de falhas.
2. O Espírito Santo está relacionado a Cristo. É enviado por Ele. Não diz nada de próprio, mas faz lembrar o que o Mestre falou, levando a plenitude do entendimento, à plena verdade. O Espírito torna atual a Palavra e a ação de Cristo, portanto, é inseparável dele. Cristo, único Caminho, Verdade, Vida precisa ser entendido e vivido no aqui e agora de nossa existência, neste contexto cultural específico no qual vivemos. Isso acontece pela obra misteriosa e secreta do Espírito. Seria bom rever, de maneira mais equilibrada, o papel do Espírito nunca o separando de Jesus, sobretudo em nossos caminhos e práticas espirituais. É o Espírito que leva ao pleno entendimento do que Jesus falou.
3. Ainda o Espirito é a alma, a vida o dinamismo de tudo. Ele é o protagonista exclusivo da Evangelização. É ele que abre portas ou as fecha. É interessante o texto dos Atos dos Apóstolos onde se fala que diante do projeto de evangelização que Paulo acalentava de ir na Ásia, o Espírito proibiu de fazer isso e indica a Macedônia como campo de ação. Cabe à Igreja e ao discípulo se colocar na escuta do Espírito, discernir os sinais e a Ele manter-se fiel. Nós nunca seremos protagonistas na história da salvação, mas somente intermediários, servos e servos inúteis. Desconhecer o protagonismo exclusivo do Espírito na vida da Igreja é se auto condenar a trabalhar em vão, a jogar a rede sem apanhar nada. Quem anda na contramão não estranhe se as dificuldades se multiplicam no agir pastoral. Substituir a Deus é arriscado demais.
4. No dia de Pentecostes com a vinda do Espírito, nasce a comunidade de Jesus, a Igreja. Nasce com teimosa coragem e capacidade de enfrentar o mundo, de anunciar a Verdade que liberta, nasce como unidade na diversidade. Que bonito o relato dos Atos dos Apóstolos sobre o dia de Pentecostes. Os diferentes falam a mesma língua porque o Espirito é comunhão, é Amor. O medo desaparece e as portas do lugar onde os discípulos estão reunidos são escancaradas. A Igreja nasce como família, como comunidade enriquecida de dons diferentes, mas todos em vista do bem comum. A Igreja nasce missionária, enviada a todos sem exclusão.
Isso tudo é obra e ação do Espírito que capacita o discípulo para grandes empreendimentos realizados com coragem até o dom total de si. Pentecostes não se concluiu, é a experiência cotidiana do seguidor de Jesus, é a vida da Igreja de todos os tempos que evangeliza, testemunha e dá a vida pelo Mestre.
Dom Carmelo Scampa
Bispo de São Luís de Montes Belos-GO