Quaresma: tempo litúrgico, existencial e de superação

Vivemos nossa vida eclesial marcada pelos tempos litúrgicos da Igreja. Agora estamos no gracioso tempo quaresmal. Não se trata de um período sombrio, ou de medos, mas de muito diálogo com Deus, de ajuda solidária e de superação das realidades que desejam escravizar a vida. A Quaresma para quem crê será um tempo de realizar um caminho libertador. Serão quarenta dias em que Cristo se recolherá no deserto de nossa vida para rezar dentro de nós e nos marcar com sua graça. Confiantes esperaremos chegar vitoriosos à Páscoa, tendo permitido que um jeito novo de viver mais humano, comprometido com a vida, sem violência e com Deus, seja assumido por nós. Se no deserto de nossa vida Cristo se recolhe para orar, podemos crer que apoiados na Graça Dele, nosso esforço de superação das misérias, fracassos e violências nos colocará no caminho de uma vida nova.

Neste ano, a Igreja nos recorda por meio da Campanha da Fraternidade, que somos todos irmãos (Mt 23,8). Têm sido diversas as situações em que o ser humano criado à imagem e semelhança de Deus experimenta a violência sendo vítima dela, ou a fazendo aparecer. A Campanha da Fraternidade nos convida a superar a violência em todas as suas dimensões. Cristo superou a violência da morte ressuscitando e sua morte se tornou fonte de santificação. Estamos na Quaresma. É tempo de superar a violência e crescer no amor.

É tempo de fazer o retiro quaresmal pregado pelo próprio Jesus que a cada domingo faz entrada em alguma área de nossa vida para nos iluminar. Já não mais andamos sem Deus neste mundo e nem sem as alegrias e inquietações dos irmãos.

Quaresma, além de tempo litúrgico, é também um tempo existencial. Quem nunca teve seu período quaresmal na vida? Quem nunca viveu tentações, não passou por sofrimentos alimentando esperanças? Quem nunca desejou a renovação de algo em sua vida? Quem nunca olhou com esperanças pascais para o amanhã? Não podemos negar que nossa vida tem mesmo um pouco de quaresma. Além disso, existe também uma quaresma na natureza que se refaz constantemente da sua velhice e dos estragos que a humanidade lhe causa.

Em tudo podemos ver Deus passando, nos estendendo sua mão, nos abençoando, curando, corrigindo e nos entusiasmando a prosseguir.

Para sermos uma sociedade nova, nossa vivência quaresmal na busca de libertação pessoal e comunitária, deve acender luzes de esperanças onde existem trevas. Desejo que nossa trajetória e vivência quaresmal sejam libertadoras, nos tornando mais humanos, cristãos e construtores da paz.

Dom Messias dos Reis Silveira
Bispo da Diocese de Uruaçu – GO
Presidente do Regional Centro-Oeste da CNBB