Passar os olhos no texto narrativo escrito por São Lucas, no qual é apresentada a cena do nascimento do Salvador, é algo enternecedor.
A simplicidade utilizada pelo autor sagrado para nos mostrar a grandeza de um momento crucial na História da Salvação, por si, apenas, já nos educa. Uma cidadezinha simples, um casebre afastado, uma manjedoura, alguns animais, o silêncio da noite, peregrinos percorrendo estradas olhando para o céu e perseguindo uma estrela-guia.
Uma desconcertante simplicidade, nenhuma ostentação. O silêncio é rompido pelo choro de uma criança que nasce da Virgem Mãe e pelo entoar dos anjos que no céu proclamam: “Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens por Ele amados”.
Desde o seu nascimento, Jesus é marcado como sendo o Príncipe da Paz. Glória e paz, um duplo movimento de exaltação e de serenidade envolve aquela cena do nascimento do Menino Deus: “Ele será chamado Conselheiro Maravilhoso, Deus Todo-poderoso, Pai da eternidade, Príncipe da Paz” (Is 9,6). Todos esses atributos apresentados pelo Profeta no Antigo Testamento aplicam-se de modo magistral ao próprio Cristo: “Nasceu hoje em Belém o Salvador”.
“Príncipe da Paz será chamado”. São Paulo escreve a Tito: “Manifestou-se a graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens” (2,11). Nas noites do Natal de hoje, nas igrejas e nas casas, deve ressoar esta mesma aclamação: Deus proveu a humanidade do caminho de acesso à graça que santifica. Na encarnação de Cristo está assinalada a simplicidade de Deus. Ele decide habitar o mundo de modo simples, terno, profundamente humano, prosaico. Como que para mostrar à humanidade que o mais profundo segredo para a felicidade está no rompimento com toda sorte de ostentação, de frenética ânsia por qualquer forma de sobreposição e dominação.
Talvez esteja aqui uma das fortes razões pelas quais muitas pessoas se detêm longamente diante dos presépios. Os olhos percorrem a magia daquele instante narrado por São Lucas. E ficamos perplexos contemplando a grandeza revelada na Sagrada Família de Nazaré, cuja festividade a Igreja celebra no próximo dia 30 de dezembro.
Que maravilha é anunciada ao homem: Deus Trindade, unidade transcendente, consagra a família como sendo o Santuário dentro do qual habita o Altíssimo. No ventre de Maria, no seio da família de Nazaré, a simplicidade de um Deus profundamente terno e comprometido com a redenção humana. E que elege a família como espaço fecundo da presença do Altíssimo. Não é por outra razão que João Paulo II denominou
a família como “santuário da vida”.
Desejo a todos os leitores, à sociedade em geral, que o Natal, das famílias e daqueles que se encontram delas ausentes, seja uma alegre experiência desta ternura e simplicidade de Deus. Que a experiência de celebrar o Deus-Menino acenda nos corações de todas as pessoas a firme esperança pela alegre participação no insondável mistério de Deus, Verbo que se fez carne e habitou entre nós (Jo 1,14).
Feliz Natal!