Análise de conjuntura social: “Sem crescimento não há base para melhorar a vida social”

O jurista Rubens Ricupero, Oblato beneditino, ex-ministro da Fazenda do Governo Itamar Franco (1992-1994) ocupou o espaço da Assembleia Geral da CNBB reservado ao estudo da atual conjuntura social, política e econômica do Brasil. Considerou o convite a se dirigir aos bispos uma honra e antecipou que não tinha a pretensão de trazer nenhuma revelação.

Em sua análise, Ricupero apontou que o momento atual requer ponderação sobre o crescimento do país que, ao invés disso, está recuando. “O crescimento não é tudo, mas pode-se dizer que não sendo tudo, é quase tudo. Sem crescimento não há base para melhorar a vida social”. Ele alertou que se o crescimento não for retomado em pouco tempo, as conquistas sociais poderão ser ameaçadas. “As faixas da população que saíram da pobreza extrema fizeram isso graças ao crescimento. Se não voltarmos a crescer, essas conquistas já começam a mostrar corrosão. Desemprego cresce e temos perda do valor real dos salários”.

O peso da inflação

Com foco durante todo o tempo nas classes mais pobres, o analista afirmou que a inflação pesa, sobretudo, no bolso de quem depende de salários. “Essas pessoas já começam a diminuir o consumo e a inflação pode trazer uma intensificação dos mecanismos distributivos o que radicaliza a opinião pública”, ponderou.

Caminho

Aos bispos, o ex-ministro apontou que o caminho é lançar mão “de um ajuste que poupe os que são mais frágeis, que permita o equilíbrio da dívida pública e que atraia o investimento”. Ele comentou que o governo está consciente dessa realidade. “Conheço os ministros da fazenda e do planejamento e creio que eles merecem apoio”, disse. Ricupero acha que a popularidade do governo deve deixar de cair e que sejam criadas as condições para a condução do processo. “É possível que o mandato atual seja turbulento, mas o valor da Constituição, da lei e da participação deve ser preservado”, reforça.

Ainda durante suas colocações, ele afirmou que é muito difícil prever o movimento dos acontecimentos devido à velocidade das mudanças. Declarou que há um mês poderia dizer outra coisa. E sintetizou que o momento atual exige boa vontade dos brasileiros acima das visões divergentes, para que o Brasil não sofra nenhum retrocesso nas conquistas dos últimos 30 anos nos planos político, institucional e, principalmente, no combate à pobreza. “Qualquer sociedade será julgada pela maneira como trata os mais pobres, os mais frágeis, os mais vulneráveis. Esse é o sentido principal da ação política”, acrescentou.

Papa Francisco

O analista leu a Bula Misericordiae Vultus sobre o Ano Santo da Misericórdia, do papa Francisco. Nesse documento, o papa cita uma frase de Paulo VI, pronunciada no encerramento do Concílio Vaticano II, em 7 de dezembro de 1965: “em vez de diagnósticos desalentadores, se dessem remédios cheios de esperança; para que o Concílio falasse ao mundo atual não com presságios funestos mas com mensagens de esperança e palavras de confiança”. Para Ricupero, essa frase representa muito para os cristãos nesse momento social, político e econômico do Brasil. Ricupero concluiu com outra citação do papa Francisco em discurso feito no Brasil, em 2013: “Quando me pedem um conselho, minha resposta é sempre a mesma: diálogo, diálogo, diálogo. Ou se aposta no diálogo e na cultura do encontro ou todos perdemos”.

Esta foi a segunda vez que Rubens Ricupero se dirigiu à Conferência dos Bispos do Brasil. A primeira vez aconteceu há 21 anos, em Brasília, quando dom Luciano Mendes de Almeida era o presidente.