CPT: Mais de 4 mil famílias foram atingidas por conflitos no campo em Goiás, em 2024

Na quinta-feira, 5 de junho, a Comissão Pastoral da Terra Regional Goiás (CPT Goiás) lançou a publicação Conflitos no Campo 2024 – Análise dos Dados Registrados em Goiás.

O evento contou com a participação de diversas entidades ligadas aos trabalhadores rurais e à organização dos trabalhadores na luta pela terra. Dom Jeová Elias, bispo diocesano de Goiás e bispo responsável pela Comissão para a Ação Sociotransformadora, do Regional Centro-Oeste da CNBB, também participou. Em sua fala, o bispo apresentou de forma resumida o fio condutor da história de Israel, isto é, a promessa de uma terra a Abraão e a promessa de uma descendência. Dom Jeová falou sobre a terra como dom de Deus, um presente, mas também como conquista, como empenho, como luta para tê-la. Ele ainda destacou um dos princípios básicos da Doutrina Social da Igreja, que é a destinação universal dos bens da criação. “Todas as pessoas deveriam usufruir dos bens criados por Deus, a injustiça é o latifúndio concentrando a terra e a riqueza em poucas mãos”. Ele concluiu a sua fala com o poema Eu Quero, do Patativa do Açaré, que aborda o desejo de um governo que proteja a todos, que respeite o direito de viver, que se empenhe pela paz e pela fraternidade.


Conforme os dados da publicação Conflitos no Campo 2024, 4.158 famílias foram atingidas por conflitos no campo no estado no ano passado. Ao todo, foram registrados 52 conflitos por terra, sendo 49 casos de violência contra ocupação e posse e três ocupações de terra. A maioria dos casos envolve ameaças de expulsão, destruição de casas e roçados, grilagem de terras e até um despejo realizado sem ordem judicial. Em alguns registros, as violências são praticadas de forma conjunta por fazendeiros e agentes do Estado, evidenciando uma relação preocupante entre interesses privados e poder público.

De acordo com o relatório, 63,25% das ações violentas têm como causadores o agronegócio e o governo estadual, revelando uma articulação entre interesses econômicos privados e omissão ou conivência institucional.

No cenário nacional, Goiás ocupa a 9ª posição entre os estados com maior número de conflitos no campo. Os municípios com mais ocorrências foram Catalão e Cavalcante, com três registros cada.

Entre os agentes causadores das violências, além de fazendeiros e do governo estadual, aparecem também mineradoras, empresários, grileiros, governo federal, polícia militar, políticos e até mineradoras internacionais. Já entre as populações mais atingidas, destacam-se: famílias semterra, assentados, quilombolas, indígenas, posseiros e pequenos proprietários, o que demonstra a abrangência e gravidade das violações contra diferentes formas de organização camponesa.

Além dos conflitos por terra, o relatório também apresenta dados sobre conflitos por água, trabalho escravo e violência de gênero no campo.

MEMÓRIA MARTIRIAL E RESISTÊNCIA
O relatório deste ano também dedica um espaço à Memória Martirial de Nativo da Natividade de Oliveira, camponês sindicalista assassinado há 40 anos em Carmo do Rio Verde (Diocese de Goiás). O texto, escrito por Dom Jeová Elias, abre o caderno como um convite às comunidades a manterem viva a memória dos mártires da caminhada – aqueles que sustentaram até o fim seu compromisso com a justiça e o Reino de Deus.

Como afirma a CPT na apresentação da publicação:
“Os povos e comunidades da terra seguem produzindo vida em seus territórios, clamando por justiça e cultivando saúde e dignidade, mesmo diante da violência institucionalizada.”

Com informações de João Marcos – Coordenador regional goiás

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